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Arquitetos: Atelier Alter Architects
- Área: 13358 m²
- Ano: 2023
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Fotografias:Highlite Images, Zhi Xia

Descrição enviada pela equipe de projeto. Localizado a sudoeste do Lago Erhai, na orla da antiga cidade de Dali, um antigo galpão de transformadores foi convertido em um parque teatral. O conjunto fabril original — composto por oficinas, depósitos e escritórios — deu lugar a espaços dedicados ao teatro, à arte em novas mídias e a experiências gastronômicas multissensoriais. O coração do projeto é o Transformer Theatre, principal palco do complexo, que une arquitetura, design de interiores e cenografia em uma síntese integrada.


O edifício central da antiga fábrica — futuro Transformer Theatre — é o mais alto da antiga cidade murada e estabelece uma relação singular com o entorno. Seus terraços a leste e a oeste enquadram o Lago Erhai e as Montanhas Cangshan, paisagens que definem a identidade visual de Dali. O projeto utiliza passagens e plataformas para conectar os diferentes níveis das coberturas, criando percursos contínuos e abertos. Assim como o planalto de Atenas deu origem à Acrópole e à cultura ocidental, o Transformer Park busca configurar uma nova “tábula rasa” ondulante que revigora a cultura oriental e o espírito contemporâneo de Dali.



O terreno e o processo de regeneração urbana oferecem uma oportunidade rara de redefinir a tipologia teatral. Devido às limitações espaciais, o Transformer Theatre foi concebido a partir da união de quatro edificações existentes: o edifício principal se torna o palco frontal, o depósito abriga os bastidores, o antigo escritório transforma-se em loja de presentes e a oficina fornece os serviços de apoio. Assim, o teatro se expande de uma “caixa cênica” isolada para um verdadeiro “distrito teatral”, onde as ruas entre os edifícios se tornam passagens de cena e conexões entre usos. O teatro deixa de representar apenas a elite: como um rizoma, ele brota dos espaços cotidianos, emergindo entre as frestas da vida comum. São esses momentos triviais, cheios de tensão, que revelam o espírito do nosso tempo. Parafraseando Lewis Mumford — “a cidade é um museu, e o museu é uma cidade” —, o projeto inverte o conceito: a cidade é um teatro, e o teatro é uma cidade.


Quando a arquitetura se desdobra para além de sua função prática, ela cria “outros espaços” — lugares de ilusão e imaginação. Esse espaço ilusório, a heterotopia, define o que chamamos de “teatro”. Aqui, o teatro pode acontecer em qualquer lugar: sob o telhado, sobre ele, junto ao claraboia ou projetando-se das janelas como pequenas caixas cênicas. Cada edifício do antigo complexo oferece parte de sua estrutura para formar uma micro-heterotopia — um espaço de contemplação paralelo à realidade. Conectadas entre si, essas micro-heterotopias compõem um campo expandido, um território simbólico além do real. Ao atravessá-lo, o visitante percorre uma seção imaginária da cidade e da própria vida cotidiana.



Erguido entre zonas residenciais e comerciais, o antigo complexo surgiu no centro de Dali a partir de eventos históricos da década de 1970. Ele próprio é uma forma de heterotopia no coração de uma cidade turística. O contraste entre sua estética industrial e a paisagem natural enriquece as camadas urbanas e culturais da região. A linguagem industrial — marcada por linhas mecânicas, compacidade espacial e sensibilidade material — é reinterpretada como gramática arquitetônica, definindo os espaços internos e externos do teatro. A combinação entre indústria, arquitetura vernacular e arte digital reanima o terreno fabril, convertendo-o em uma “fábrica transformada” que encena uma cidade surreal, feita de contrastes e momentos teatrais em constante mutação.


O primeiro pavimento abriga o Theatrical Bar of Tarot, a Queen’s Broadcast Room, a Experimental Cabin, a Research Unit, a Immature Canteen e o High Club. Cada espaço propõe experiências performáticas imersivas e singulares. A sequência espacial combina lógicas lineares e não lineares, fundindo espetáculo e arquitetura: o espaço interno é, ao mesmo tempo, cenário e protagonista. A loja de presentes, conectada ao primeiro e ao segundo pavimentos, funciona como desfecho simbólico da jornada teatral.


O segundo pavimento reúne espaços como Fragment of Memory, Suspended Sleeping Tank e o mezanino do High Club. Aqui, técnicas digitais — como projeções em telas de fios, cortinas de algodão e captura de movimento — criam ambientes ilusórios que ultrapassam os limites físicos da arquitetura. No terceiro pavimento, os espaços gastronômicos Tarot Bar Extension e Red Wine Restaurant mantêm o espírito teatral e incorporam motivos industriais herdados da antiga fábrica de transformadores.


O híbrido entre espaço performático e comercial ocupa o antigo laboratório químico da fábrica. Sua narrativa nasce do primeiro ato do espetáculo: um ambiente surreal onde peças de máquinas são ampliadas, convidando o público a refletir sobre o tempo e a própria condição humana. O espaço é marcado por uma escada em dupla espiral — evocando o DNA — que se desenrola em meio a uma floresta paramétrica que se metamorfoseia de plantas em borboletas. Com o suporte de apresentações em AR e VR, o ambiente conta a história do quarto da rainha e do assassinato transmitido a partir dele. Trata-se de um espaço circular e imersivo, que combina realidade aumentada e virtual, conduzindo atores e público a escapar das dimensões físicas. Outro ambiente teatral é formado por uma rede de telas eletrônicas, cenário da performance sobre o aprisionamento e a libertação de um robô dotado de inteligência artificial.


O High Club combina um clube noturno e o palco final do espetáculo, onde todas as tramas atingem seu clímax. O projeto reaproveita um guindaste e um teleférico da antiga fábrica, transformando-os em um palco flutuante que pode ser elevado ou abaixado. Dois palcos subterrâneos fazem contraponto ao palco suspenso, todos equipados com telas translúcidas de LED para apresentações em realidade virtual. O bar do clube reutiliza as antigas máquinas da fábrica como mobiliário, criando uma atmosfera híbrida entre teatro e realidade — o ponto culminante de um espaço onde a cidade inteira se torna espetáculo.






























































